O Capítulo Português da Internet Society pela Inclusão Digital contra o Covid-19

Resultados de abril 2020 

Recebemos 3585€ em doações durante Abril e gastámos 3600€ na aquisição de 8 portáteis IdeadPad da Lenovo, modelo S145 (15", 4 GB de ram, 128 GB SSD), que já foram entregues às seguintes casas de acolhimento ... Ler mais

As contribuições 

Caso queira contribuir pode fazê-lo de duas formas: Fazer uma contribuição financeira Oferecer-se como voluntário para apoiar a casa de abrigo que preferir e apresentar um testemunho Contribuições financeiras ... Ler mais

Projeto SOS Digital contra o Covid-19

 

A crise de saúde pública global resultante da pandemia de coronavírus, obrigou a generalidade dos países à suspensão do ensino presencial e à passagem súbita para modelos de ensino/aprendizagem online, tornando evidente o fosso digital existente, mesmo entre os jovens, entre os que dispõem e os que não dispõem de computadores e acesso à Internet a partir de casa. Em Portugal, estima-se que um em cada cinco alunos não tem computador em casa e 5% das famílias com crianças até aos 15 anos não tem Internet. Este número, só no ensino básico, poderá chegar aos 50 mil alunos [1].

A constatação deste panorama levou à mobilização de esforços por parte da sociedade civil, assistindo-se a diversas iniciativas, de Câmaras Municipais a grupos de Facebook, passando por Organizações Não Governamentais, visando dotar estes jovens alunos dos equipamentos e serviços que lhes permitam acompanhar as atividades letivas. Ciente da situação, o próprio Ministério da Educação avançou sugestões alternativas destinadas a mitigar este problema [2]., estando em curso, inclusivamente, o “ressuscitar” da telescola.

Neste enquadramento, o Capítulo Português da Internet Society tomou conhecimento de um segmento particularmente desfavorecido entre os mais vulneráveis: os cerca de 7 mil jovens residentes (88% dos quais com idades entre os 6 e os 17 anos) nas cerca de 400 Casas de Acolhimento existentes em Portugal [3]. destinadas a crianças e jovens em risco, muitos deles sem dispor de computadores, tablets ou smartphones e sem ligação à Internet nas suas residências.

 

 

Procurando fazer face ao fosso digital e dar resposta a este segmento da população dos mais carenciados, o Capítulo Português da Internet Society concebeu o Projeto SOS Digital. Contrariamente à generalidade das iniciativas que têm sido anunciadas que se caracterizam por serem avulsas e responder a uma situação de emergência, o Projeto SOS Digital visa mobilizar os associados do ISOC Portugal, todas as pessoas de boa vontade, assim como todas as instituições que queiram apoiar esta iniciativa, com especial realce para indústria das tecnologias de informação e comunicação, desde fabricantes de computadores a fornecedores de serviços de acesso à Internet, para equipar as Casas de Acolhimento de Crianças e Jovens em Risco com computadores, serviços de acesso à Internet e serviço de apoio e suporte técnico, para que os jovens em acolhimento não vejam agravada a situação de carência em que se encontram.

Muitos têm a imagem de que Portugal é um país avançado na utilização da Internet ao serviço da cidadania e da economia. Esta ideia ajuda a camuflar a realidade de todo um conjunto de sectores da população que não têm acesso à Internet de todo, ou têm-no em condições tais que não podem tirar partido completo das suas potencialidades.

Esta iniciativa, pensamos nós, poderá constituir um embrião de um projeto de luta contra o “Digital Divide”, isto é a desigualdade existente no acesso pleno aos benefícios da Sociedade da Informação, promovendo iniciativas que levem ao incremento dos meios de acesso à Internet em condições adequadas a sectores desfavorecidos da Sociedade Portuguesa. Seja através da aquisição de mais equipamentos, seja pelo aumento das competências digitais, seja ainda pela promoção de redes comunitárias e meios de acesso à Internet auto-sustentáveis.

Este tipo de iniciativas enquadram-se no projeto mundial da Internet Society intitulado Community Networks.

 

 

Guifi.net é uma rede comunitária na região de Barcelona particularmente relevantes nestes tempos de crise.

 

[1] Será a distância igual para todos?

[2] Intervenção educativa para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade

[3] CASA 2018 – Relatório de Caracterização Anual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens

Doadores  institucionais

Instituições que não deixaram de responder a este apelo

Testemunhos

Testemunhos de diversas pessoas envolvidas no projeto.

Apelo do Presidente do ISOC PT

  • José
  • 10 Abril 2020

A crise de saúde pública global resultante da pandemia de coronavírus tem impactos profundamente assimétricos nos diferentes grupos sociais. O impacto negativo no futuro de jovens pertencentes a meios desfavorecidos, sem acesso à Internet e a computadores, é dramaticamente negativo e compromete de forma duradoura as suas oportunidades de progresso social.

Entre esses jovens, um especial realce deve ser dado aos jovens que vivem nas Casas de Acolhimento de Crianças e Jovens em Risco, por serem órfãos, ou por se ter chegado à conclusão que não devem viver com as suas famílias pelo inadequação das mesmas à sua educação. Estas casas, apoiadas pela Segurança Social, são mantidas pelas mais variadas IPSSs. Os seus meios são globalmente escassos, mas em algumas delas falta tudo o que não seja essencial e muitas vezes cerca de 30 jovens que vivem numa mesma casa, não têm acesso a computadores ou partilham um número muito reduzido de equipamentos.

Lançámos o projeto SOS Digital para ajudar a contrariar a exclusão digital. Para começarmos por algum lado, “pois o caminho faz-se caminhando”, lançámos esta coleta de fundos entre os associados do ISOC Portugal e seus conhecidos para oferecermos equipamentos de nível adequado a 3 dessas casas. É pouco face às necessidades, mas é um começo. Dos fundos de reserva da associação, a direção resolveu contribuir com 2.000€, e iremos tentar duplicar este valor até ao fim de Abril com contribuições dos associados e dos seus contatos.

Apelo a todos os associados para que contribuam a reunir aquela verba e que também se inscrevam para prestar apoio futuro na nossa área de competências ao maior número possível de casas.

José Legatheaux Martins, Presidente do ISOC Portugal

Testemunho de Sónia Rodrigues

  • Sónia
  • 13 Abril 2020

As crianças carecem de especial proteção no que diz respeito à salvaguarda dos seus direitos. A Convenção sobre os Direitos das Crianças (CDC), ratificada por Portugal em 1990, sublinha que o bem estar das crianças é responsabilidade do Estado, ou seja, de todos nós. A CDC é também clara quanto ao facto das crianças terem direito a uma família. Contudo, por vezes, a criança não pode viver com os seus pais ou o Estado considera essencial a retirada da criança do seu contexto familiar para sua proteção. Nestes casos, em Portugal, nos dias de hoje, o destino destas crianças é ainda, na maioria das vezes, uma casa de acolhimento.

As crianças e jovens que vivem em casas de acolhimento passaram frequentemente por experiências traumáticas prévias à sua entrada no sistema de promoção e proteção.

Estar em acolhimento significa viver longe da família, longe dos amigos, longe da sua comunidade. Implica ter que aprender novas rotinas diárias e a adaptação a todo um novo contexto. A vida em acolhimento residencial não é fácil para a maioria das crianças e jovens.

As casas de acolhimento do nosso país procuram reproduzir, cada vez mais, um ambiente familiar. Os cuidadores, para além de dar resposta às necessidades básicas das crianças acolhidas, são importantes figuras de apoio e afecto.

Diariamente, nas casas de acolhimento procura-se oferecer uma rotina o mais normalizada possível às crianças e jovens que lá vivem. Ainda assim, muitas casas de acolhimento nem sempre conseguem dispor de recursos que já estão acessíveis à maioria das famílias do nosso país. Ferramentas de uso diário, como computadores e rede Wi-Fi, nem sempre existem nas casas de acolhimento ou são manifestamente insuficientes face ao número de crianças que vivem na casa.

Este facto constitui mais um factor de desfavorecimento social para as crianças e jovens em acolhimento. Nestes tempos de confinamento social, torna-se ainda um motivo adicional de sofrimento.

A pandemia de Covid-19 e as medidas de isolamento social decretadas obrigam a que as crianças em acolhimento se vejam, também elas, fechadas em casa. As equipas de cuidadores estão reduzidas (porque alguns pertencem a populações de risco ou têm filhos a cargo). Para diminuir o perigo de contágio foram proibidas visitas e idas a casa da família. As aulas presenciais foram interrompidas e o ensino à distância tornou-se a solução encontrada para manter as atividades lectivas …

Sem computadores e Wi-Fi, todo este ”novo normal” se vê comprometido. Atividades lúdicas, comunicação com as famílias e amigos e aprendizagens escolares, agora dependentes de material informático e de internet, estão, senão vedadas, seriamente dificultadas, condicionando ainda mais a situação de vida e o futuro destas crianças e jovens.

Tudo aquilo que possa ser feito no sentido de minorar esta carência contribuirá para diminuir um pouco o sofrimento destas crianças e jovens. Estes recursos são imprescindíveis durante a fase extraordinária que estamos a viver mas continuarão a ser essenciais no futuro.

Defender os direitos das crianças e jovens é também permitir-lhes que participem na construção do seu/nosso amanhã.

Sónia Rodrigues

Psicóloga, doutorada pela universidade do Porto, investigadora externa do GIIAA da FPCEUP e supervisora de casas de acolhimento.

Testemunho de Marco Lourenço

  • Marco
  • 15 Abril 2020

Face ao atual contexto e evolução da pandemia covid-19, a Casa de Acolhimento Residencial do Centro Juvenil de Campanhã, que acolhe crianças e jovens, atualmente, com idades compreendidas entre os 13 e os 21 anos de idade deparam-se diariamente com um conjunto de novos desafios para os quais ninguém estava devidamente preparado.

Rapidamente os profissionais têm de se adaptar às novas rotinas que se impõem e encontrar estratégias que façam as crianças e jovens aderir a estas novas regras, fundamentais para que se consiga atravessar este momento com o mínimo risco possível. Para isso, o isolamento social foi uma das medidas, e diríamos até, a que mais custa a estas crianças e jovens, que afastadas dos seus agregados familiares se vêem agora desprovidas dos contactos presenciais regulares que tinham até então, através de visitas, idas de fim de semana, ou períodos de férias.

Para colmatar este isolamento a forma mais eficaz de o fazer é através do uso de tecnologias, como sejam os computadores, os tablets, as televisões ou mesmo os smartphones. Recursos que em muitas famílias são vistos como dados adquiridos, mas que para nós são recursos escassos e fundamentais para poder facilitar o contacto destas crianças e jovens com os seus familiares ou pessoas de referência.

O uso destas tecnologias permite também oferecer a oportunidade de aceder ao ensino e aprendizagem à distância, agora imposto, igualando assim o acesso às mesmas oportunidades, na continuidade dos seus percursos formativos.

A nossa Casa de Acolhimento dispõe de parcos recursos tecnológicos para as cerca de 40 crianças e jovens em acompanhamento, sendo que atualmente, para fazer face às necessidades impostas muitas das vezes é necessário recorrer ao uso dos equipamentos de trabalho da equipa técnica.

Por forma a adaptarmo-nos a estes novos desafios, encontramo-nos a desenvolver um conjunto de estratégias que permitem reforçar o equipamento tecnológico já existente sendo que, com uma eventual oferta da vossa parte, com 2 ou 3 computadores, torna-se de todo importante e fulcral, garantindo assim que os recursos disponibilizados lhes permitam fazer face a alguns dos desafios impostos.

Aproveitamos desde já para, em nome de todas as crianças e jovens, bem como de todos os profissionais da Casa de Acolhimento e restante comunidade institucional, reconhecer com louvor esta vossa iniciativa e ato solidário, uma vez que as dificuldades se sentem não só neste contexto, como também no setor empresarial.

Marco Lourenço

Diretor Técnico-Pedagógico, Casa de Acolhimento Residencial do Centro Juvenil de Campanhã

Testemunho de Filipe Mouzinho Serrote

  • Filipe
  • 23 Abril 2020

As Casas de Acolhimento Residenciais estão a passar uma fase tão difícil e complexa que, só quem lá trabalha e quem lida com esta realidade consegue compreender. Jovens adolescentes pouco vinculados aos cuidadores e à própria terra que os acolheu, privados de estar com as famílias e agora, devido à pandemia do COVID-19, em confinamento, proibidos de sair de casa, é provavelmente a “receita” para o desabar do acolhimento residencial. No entanto, há algumas estratégias (há sempre…) que as casas de acolhimento devem adotar, em função do grupo e da especificidade de cada jovem. Alguma flexibilidade nas regras, horários e necessidades dos jovens podem ser fatores minimizadores do problema, bem como promover de forma alargada uma comunicação entre jovens e familiares através dos telemóveis, tablets, televisões e computadores.

Com o início da telescola surgiu mais um problema. Como conseguir que 30 jovens tenham acesso através do computador às aulas online? As aulas sincronas e assincronas exigem que os jovens tenham acesso a um dispositivo, sendo que o computador, neste caso, é o mais aconselhado. Como tal, existe uma grande necessidade nestas casas de dar resposta a este problema.

Neste sentido, a Casa de Acolhimento Residencial de Santo António, através dos jovens e cuidadores agradece a lembrança e a oferta que irá fazer toda a diferença, contribuindo para o combate à injustiça social, bem como à igualdade de oportunidades. É com gestos como este que o “mundo pula e avança” como referia Manuel Freire na Pedro Filosofal.

Filipe Mouzinho Serrote

Diretor Coordenador das Casas de Acolhimento da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre Investigador no Instituto de Psicologia Cognitiva Desenvolvimento Humano e Social – Universidade de Coimbra – Unidade I&D da FCT

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O Capítulo Português da Internet Society, também designado Associação ISOC Portugal Chapter, está sediado no Departamento de Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa - Campus da Caparica.
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